terça-feira, 31 de janeiro de 2012

In Memória. A notícia do brutal assassinato de Ricardo de Mello


No passado dia 18 de Janeiro de 2012, os jornalistas angolanos comprometidos com a liberdade de expressão e de imprensa, rememoraram a data como tendo sido aquela em que tombou uma das primeiras vítimas da barbárie da intolerância deste regime que “estamos com ele”; o assassinato do jornalista Ricardo de Mello, director do Imparcial Fax, na porta de sua casa, situada num prédio da Rua Direita de Luanda. Vamos pois apresentar dois interessantes artigos de jornalistas angolanos sobre a tragédia.

Ricardo, nós aqui, na trincheira do F8, 17 anos depois do teu brutal e traiçoeiro assassinato, continuaremos a honrar a tua memória, por isso estamos juntos!

Hoje de manhã, cedo ainda, quando me deram de Luanda a notícia do brutal assassinato de Ricardo de Mello, dei comigo a congeminar que o tempo tinha acabado desafortunadamente de me dar razão. O meu relacionamento pessoal e profissional com Ricardo de Mello remontava de há muito; mas tornou-se muito estreito desde há cerca de um ano quando ele lançou o "Imparcial Fax" - aqui amiúde citado ou retomado, tal como ele fazia com o AF.

Xavier de Figueiredo

Ainda ontem à tarde me tinha telefonado, entre outras razões para me levar a aprontar um artigo (inacabado) que queria publicar no primeiro número de uma revista, "A Palavra", que se estava a preparar para lançar.

O trabalho de Ricardo de Mello à frente do "Imparcial Fax", que é a sua trajectória profissional que mais conta agora, foi corajoso, mesmo até temerário, ficando-me apenas por atributos com que intencionalmente quero valorizar um dos aspectos mais notórios da sua publicação. Fui conhecendo muitas das limitações com que trabalhava; das intimidações e das obstruções de toda a ordem a que tinha de fazer face.


Sabia dos telefonemas anónimos, das ameaças e das convocatórias policiais. De vez em quando, levado instintivamente por receios quanto à sua segurança e por uma solidariedade que entendia dever-lhe, advertia-o para os riscos em que eventualmente estava a incorrer.


Afrontar tantos e tão poderosos interesses instalados; desmistificar, como ele fazia, as "vacas sagradas" de um regime que em boa verdade nunca deixou de ser totalitário e policial, haveria um dia de implicar castigo. Aconteceu esta madrugada, da única forma trágica que o regime (e os seus sinistros tentáculos), continua a conhecer para calar vozes incómodas. Como a de Ricardo de Mello.

Ricardo de Mello, 17 anos
O Jornalista angolano, Ricardo de Mello, foi assassinado na baixa de Luanda na madrugada do dia 18 de Janeiro de 1995 à porta de se sua casa com uma bala silenciosa e certeira, que, entretanto, não conseguiu atingir o alvo maior que era (e continua a ser) a liberdade de imprensa em Angola que deve ao RM e ao seu pioneiro Imparcial Fax as primeiras e mais corajosas pedras colocadas nos alicerces de uma construção que se mantém demasiado frágil e que todos os dias é (re)edificada com um prognóstico que ainda está longe de ser definitivamente o mais favorável, quando não é mesmo contraditório, com algumas práticas que se verificam sobretudo ao nível da comunicação social governamental que tarda em ser pública.

Reginaldo Silva*

O Ricardo foi-se aos 40 anos (mais ou menos). Provavelmente o seu assassino (executor) também já terá morrido. Mas os mandantes continuam por aí..."O Imparcial fax adopta como linha de acção fundamental a denúncia dos atropelos dos Direitos Humanos, da corrupção considerada como o maior entrave ao desenvolvimento do país, bem como a crítica isenta e sistemática em relação aos poderes constituídos, institucionais ou privados"- assim estava redigido o ponto 4 do seu Estatuto Editorial.


O ponto 7 do mesmo documento do histórico Imparcial Fax referia o seguinte: "Os jornalistas do Imparcial fax não poderão aceitar cargos governamentais, em partidos ou organizações de natureza política, nem desempenhar outro tipo de funções que possam comprometer a independência do jornal e do próprio jornalista." O Imparcial Fax foi durante cerca de um ano (1994/95) o único concorrente diário que o Jornal de Angola teve, depois do encerramento em 1976 do vespertino Diário de Luanda, igualmente por razões políticas.*Morrodamaianga.blogspot.com

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