quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Os clamores do Mwangolé e outros clamores


Existem situações por esta África fora em que vemos os mesmos promotores da democracia recebendo com “tapete vermelho” declarados ditadores só porque aparentemente seus países possuem petróleo ou urânio.» Do mesmo modo que o pecado não está nos bikinis, mas na lascívia dos nossos olhos, também o mal não está no petróleo, mas no nada das bandejas petrolíferas e diamantíferas que nos é servido. Prometeram-nos que depois da independência seríamos felizes, correríamos como as águas nos rios de felicidade libertas. E dormiríamos e acordaríamos banhados pelas aragens das suas margens. E nos perderíamos nos encantos da harmonia florestal. Mas não, afinal a independência eram os tesouros das esmeraldas, dos diamantes, do opulento e poluente petróleo na sua vil e vã magnificência. E outra espécie também descendente de humanos claros e preclaros, ditos de um Deus superior à nossa virtude, de tudo e da Natureza, encheu-nos de riscos num mapa inventado. E os rios perderam-se, secaram, e o que para nós era espiritual, para os preclaros foi, e é, grande riqueza material. E gritaram-nos: selvagens!!! Da nossa salutar nudez casada com a vegetação densa verdejante e acariciante, fustigada pelas latejantes, lampejantes e ternas chuvadas, pereceu na espoliação da civilização. E inventaram governos locais que publicaram decretos animados por estrangeiros, que renunciaríamos à nossa terra e a todas as riquezas nela contidas. Fonte: Noé Nhantumbo, canalmoz (in Gil Gonçalves)
O clamor de Gégé
Esta semana depois do descanso merecido para enfrentar mais um ano nesta nossa terra querida, fui tranquilamente fazer umas compras básicas na famosa CASA DOS FRESCOS. Passava eu pela zona dos frescos(…), adoro Melão, e ao ver um na prateleira fui inocentemente tentar colocar no meu cesto para comprar e obviamente depois degustar junto da minha família. Se não tivesse provas penso que pouca gente acreditaria, não é que o inocente MELÃO custava nada mais nada menos que a quantia de9.803.01kzs o equivalente em dólares ao cambio oficial (105.40usd). Amigos acreditem que por alguns minutos parei e pensei que fosse um engano, chamei a funcionaria e ela disse que realmente aquele era o preço uma vez que se tratava de fruta importada. Meus compatriotas acho que devemos ter um outro tipo de atitude com essa gente que se aproveita das nossas dificuldades para criar um "El dourado" nos seus países de origem, muito sinceramente não acredito que este dinheiro, que vale esse Melão de ouro e para beneficiar os nossos filhos, ou a nossa terra que tanto precisa. Isto é um autêntico roubo. Aonde estão as autoridades, Policia Económica, Inadec, será que não existe ninguém para ajudar a pôr esses ladrões na linha. Daí o meu apelo à sociedade civil para deixarmos de frequentar esse tipo de lugares acho que só assim será possível conter essa onda de aproveitadores. Fonte: Gerónimo Belo
Despacho a despachar
Temos vindo a receber na nossa redacção informações a propósito da curva feita à linha editorial da Rádio Ecclesia em favor da defesa de algumas teses do Executivo. Leiam a seguir um relato não probatório, mas significativo, dessa mudança. No exercício da nobre missão de presidente da Assembleia Nacional (AN), cujas competências lhe são conferidas pela lei constitucional, Paulo Cassoma exarou um assombroso despacho, parecidíssimo com um tiro nos pés em qualquer democracia que se respeite, mas como estamos longe disso, digamos semelhante ao esvaziamento de pneus da cadeira de rodas do nosso paraplégico Parlamento: suspendeu as funções de fiscalização do poder Executivo (JES) por via da Assembleia que ele próprio dirige! Motivo: regimentar essa fiscalização para evitar futuros conflitos entre os dois poderes abrangidos pela mesma. O que, dito de outro modo quer dizer «Fiscalizem, mas não chateiem muito». Genial. Na TPA, RNA e JA mal se tocou no assunto e teve que vir de lá a Rádio Ecclesia propor um debate público, que foi para o ar no programa “Debate informativo” de sábado passado, 18.09.10. O moderador, que não conseguiu esconder a tendência a que aludimos supra, era o Manuel Vieira. Tinha convidado representantes de todos os partidos com assento na AN, mas só apareceram dois. E pouco faltou para que só um deles pudesse exprimir a sua opinião. De facto, o debate, sem menosprezar o desempenho de outros participantes, resumiu-se a um duelo político-jurídico entre os representantes do MPLA e do PRS, respectivamente, D. João Pinto e o Sr. Sapalo António. Não vamos comentar aqui as respectivas argumentações, um a dizer legal, o outro, ilegal, visto que a decisão de Paulo Cassoma é simplesmente cómica: na Casa das Leis, onde não se podem fazer leis, agora não se podem fiscalizar as que vêm lá de cima. Caso para perguntar o que é que Cassoma está afazer no seu cadeirão de presidente.
A “grandeza” de D. João Pinto
Durante o debate assistimos pois a um “chassé-croisé, uma troca de bandarilhas entre dois homens a querer fazer valer ideias opostas, cada um a sua. Nesse confronto, D. João Pinto comportou-se como se fosse, embora esteja longe de ser, um inacessível expoente da ciência jurídica, senhor de sapiência infusa. Não deixou o deputado Sapalo exprimir serenamente a sua opinião, interrompeu-o repetidas vezes, aproveitando a passividade do Manuel Vieira e a boa educação do deputado do PRS. Pelo contrário, quando este, ou mesmo o moderador o interrompiam, o homem não se calava e dizia, «Deixe-me prosseguir o meu raciocínio», e continuava a debitar a sua prosápia, envernizada com números de artigos legais enfiados a martelo na cabeça. A certa altura disse o seguinte: «Aceitei participar a este debate porque pensava que ia encontrar pessoas competentes, mas encontro-me com gente que não leu o despacho do presidente e não percebe nada de leis». Noutra ocasião deu a conhecer o seu desapontamento intelectual, «Pensava que o debate seria de nível mais elevado». Tudo isto talvez não exactamente com estas palavras, mas exprimindo claramente as ideias seguintes: “Estou em face de pessoas que não percebem nada de leis, confundem direito Administrativo com direito Constitucional, mas seja, esta é a uma nobre missão ao serviço do meu partido, vou continuar”. E dir-se-ia que ficou para fazer prazer a ignorantes.
Enquanto tudo isto se passava, numa discussão sobre um caso em que uma claríssima violação da ética democrática tinha sido posta em prática pelo Executivo, o jornalista Manuel Vieira bem tentou saber mais sobre o esquisito despacho. Dirigindo-se a D. João Pinto, perguntou se esta suspensão era para modificar as competências da AN no sentido de lhe dar mais poderes ou para restringi-los; perguntou quanto tempo iria durar a suspensão da fiscalização e perguntou ainda como se passariam as coisas enquanto o Parlamento fosse obrigado a suspender as suas actividades nesse domínio. Várias vezes perguntou, diga-se, mas D. João Pinto ignorou sempre as questões e nunca respondeu. Manuel Vieira deixou andar, não perguntou mais nada e no final do programa chegou mesmo a perder a contenção e a perguntar a D. João se tinha gostado do debate. Ipsis verbis: «O Dr. João Pinto gostou do debate?» Sem comentários.
Quanto ao deputado Sapalo, esse também perguntou a D. João Pinto, mais de uma vez, qual era o poder político que, à parte a AN, tinha sido eleito pelo povo. A resposta é fácil, não há nenhum, mas D. João ignorou a questão e passou, soberano, a outro assunto. Numa palavra, D. João Pinto comportou-se de modo exemplar, desprezando todos os que se opunham às suas ideias, numa imitação perfeita dos habituais procedimentos do seu partido, ao qual ele aderiu, diga-se, num virar de casaca oportunista, depois de ter levantado com entusiasmo a bandeira da UNITA. Mas quando o vento virar, o mais certo é que ele vire também. O mais difícil foi virar a casaca a primeira vez.
As primeiras fotos de fantasmas
Se calhar já data do tempo dos trogloditas esta mania do homo sapiens enganar o seu semelhante. Antes deste último aparecer à superfície da Terra já talvez os nossos tetravôs macacos faziam o mesmo. E quando a “civilização” chegou àquele estádio de desenvolvimento acelerado que precedeu a era actual de desenvolvimento alucinante, o acto de enganar o “outro” tornou-se uma manifestação comum a praticamente todos os mortais e característica principal de cada um de nós, pobres seres humanos.
A história que vamos contar, mostra como o homem pode enganar o outro contribuindo com isso para o progresso da humanidade. No século XIX ainda não havia Photoshop para dar aquela retocada nas fotos, ou então para criar montagens – mas isso não impediu que um sujeito de Sua Majestade Britânica, William Hope conseguisse produzir as primeiras fotos (falsas) de fantasmas. Nesse período a fotografia, por si só, parecia uma coisa sobrenatural, que congelava e eternizava as pessoas em papel através de um clique. Muitas pessoas, como se sabe, não queriam nem posar para retratos, por temerem que sua alma fosse roubada pela câmara e depois ficasse presa no papel. Então Hope e alguns amigos espertinhos resolveram tirar vantagem da ingenuidade do pessoal da época. Eles aprenderam que, tirando uma foto em cima da outra no mesmo pedaço de filme, eles conseguiam criar efeitos “fantasmagóricos”, de pessoas meio apagadas flutuando ao lado de outras.
Os resultados eram incrivelmente assustadores, como se pode ver na foto que ilustra este texto. Dizer que até pessoas inteligentes, como Sir Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, acreditou na farsa de Hope, mostra até que ponto o enganador pode ser pernicioso. E o pior é que mesmo quando a farsa dos espertinhos foi exposta, e revelada como apenas sendo um embuste, as pessoas não deixaram de acreditar neles, e Hope conseguiu obter vários milhares de dólares de seus clientes.
Lamentações pertinentes
Receio que Angola embarque num primitivismo tão bárbaro, tão desumano, e que dele não consiga mais desembarcar. Sempre as mesmas palavras bolorentas, dos mesmos governantes com cheiro a naftalina. Enquanto a miséria galvaniza a fome.
O inglês chegou, espoliou-me o emprego. O luso-angolano instalou-se e quer que trabalhe sem me pagar. Um banco chegou e ordenou aos seus capangas imobiliários que me destruíssem o casebre para o substituírem por um de betão. Dizem que fica mais bonito, e muito mais caro, acessível a poucos bolsos, imundos, oleosos, cadavéricos petrolíferos.
Qualquer estrangeiro chega, dá-me ordens, olha-me com desdém, ainda no convencimento secular de que continuo inferior, submisso, passos atrás escravos.
Sobem os preços até onde querem. Há uma impunidade geral para o poder dos novos-ricos e estrangeiros. E para nós atiram-nos, obrigam-nos a comer o lixo dos seus condomínios dos terrenos colonizados. Seja o que for que se faça, é tudo condizente com o modismo, baseado na vigarice, no permanente cambalacho. Estrangeiros mal chegados passam a chefes disto e daquilo, renovando, saudando o revanchismo.
Provocam-nos com mil subterfúgios para nos obrigarem, escorraçarem dos empregos, para neles colocarem os familiares e amigos. Isto está uma trampa daquelas. E continua-se com a produção de filhos em série. Filhos não para a nação, mas para a escravidão. Produzir muitos filhos para mostrar que ele é um macho reprodutor. A miséria reproduz-se. Os seres humanos dividem-se em selvagens e incivilizados. Fonte: Gil Gonçalves
O olvidozinho de José Van Dúnen (Q)
No passado dia 15.09 o ministro da Saúde José Van Dúnen veio a público, em Luanda, exortar os funcionários dos serviços hospitalares em geral, e os públicos em particular, a aprimorar o seu desempenho no sentido de se poder tanto quanto possível melhorar a qualidade dos serviços nessa área. O ministro afirmou que o país precisa de profissionais eticamente capacitados e humanamente competentes que respeitem a cidadania dos angolanos, de forma a melhorar o atendimento de uma vez por todas. José Van-Dúnen, que falava no acto de abertura do encontro sobre o plano de desenvolvimento de recursos humanos em Angola, acrescentou ainda que se assim for aumentará igualmente a procura por parte da população dos serviços de saúde públicos, que é parte dos objectivos do seu órgão. Bom, este último desejo Van Dúnun esbarra nos altos dignitários do país, que, para uma simples dor de cabeça são capazes de ir à estranja; quanto a querer que os funcionários façam um esforço, estamos em crer que o ministro se esqueceu de recordar os péssimos salários que eles auferem, o stress profissional e a ausência de regalias, como acesso a habitação, os subsídios por parte do ministério de tutela, que incentivam o funcionário a ter um bom desempenho profissional.
Viva o novo-riquismo Angolano
Actualmente, o nome do nosso querido país, Angola, encontra-se no fundo de uma série de listas, em todas elas entre os últimos, confundido com as mais miseráveis sociedades do mundo do ponto de vista da qualidade e da esperança de vida, da mortalidade infantil e do alastramento geral da corrupção em toda as camadas da sociedade, a começar pelas mais altas. Somos riquíssimos e o povo vive na pobreza. O lado pobre está aí, à vista de toda a gente, o novo-riquismo, também, mas tem por tendência vir a ser cada vez mais discreto. Porém, acontece de quando em vez tomarmos conhecimento do quanto são fabulosas algumas fortunas. Hoje referimo-nos a um angolano que comprou uma das mansões mais caras, e alguns até dizem que é a mais cara mansão do Algarve. Situada fora da cidade, e com localização desconhecida, esta mansão é verdadeiramente assombrosa! A foto e a informação deste artigo foram retiradas de uma revista de imobiliária portuguesa. Atentem bem aos pormenores: 8 suites, 6 quartos, sala de cinema, piscina interior, elevador, garagem para 6 carros, aquecimento central, tectos e paredes interiores em vidro, jacuzzi, escadas interiores, banheiras e lavatórios com acabamentos em mármore, sistemas de alarme e segurança de última geração, e altamente decorada pelos melhores decoradores portugueses e estrangeiros. A casa demorou oito meses a ser decorada. O dono é o General HELDER VIEIRA DIAS "KOPELIPA", na realidade, a personalidade nº 1 de Angola, depois do presidente José Eduardo dos Santos. Dispensam-se comentários. Viva o novo-riquismo.
Imagem: ... muito bem: "Portugal está a exportar o seu desemprego para Angola".
entreasbrumasdamemoria.blogspot.com

Um comentário:

  1. Ventos de Mudança

    Andam por aí,
    indivíduos com uma grande pança
    e enorme cagança,
    a anunciar ventos de mudança.
    Com tanto nepotismo e cagufa?!...
    Esses ventos cheiram a bufa.
    Eles dizem que Angola é Nossa,
    como dizia o Salazar,
    tentando convencer de que estão a trabalhar
    pelo desenvolvimento e modernização.
    Essa governação
    beneficia apenas alguns.
    Os outros padecem de contínuos jejuns
    e se protestarem sem receio
    contra o entronado,
    levam forte e feio
    da Polícia Instalada para a Defesa do Estado,
    com quem não se faz farinha,
    para entrarem na linha,
    como a mesma maneira de actuar
    usada pelo Salazar.
    A única diferença
    é de que os arautos dos ventos de mudança
    já não podem dizer aos amigos, filhos e netos
    para baterem e dispararem contra os pretos,
    porque os polícias magarefes
    poderiam bater ou matar os seus chefes.

    António Kaquarta

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