sábado, 14 de janeiro de 2012

TAL COMO ONTEM. JORNAL DE ANGOLA LIDERA INSTIGAÇÃO AO ASSASSINATO E CNCS CALA


O Bureau Político do MPLA deu o mote e os caudilhos vieram a terreiro esmiuçar toda a sorte de ameaças e atoardas contra o F8 e seu director.
Até mesmo políticos que já foram condenados por crimes de roubo e burla, como se tivessem lições para dar vieram instigar ao ódio letal contra F8.
Mas nesta encenação, achamos interessante e democraticamente demoniaca a foto publicada pelo Jornal de Angola, hoje liderado por José Ribeiro e as semelhanças de uma outra publicada em Maio de 1977, por Costa Andrade, Ndunduma, com texto de Artur Pestana Pepetela, contra Nito Alves e que antecederam a maior chacina em África depois da Segunda Guerra Mundial, instigada, caricatamente, também pelo BP do MPLA, satisfazendo um capricho de Agostinho Neto.
F8 está sereno, eu particularmente, também e não temo a minha morte, por estar ciente que os meus assassinos, apenas vão antecede-la, logo serei eu a recebe-los quando partirem para o mundo da justiça divina.
Mas como a história não mente vejam como muitos intelectuais têm as suas mãos manchadas de sangue e como é cultura do MPLA, mandar assassinar quando em causa está o seu poder ou o questionamento das suas políticas e métodos de gestão da coisa pública.
Em ano eleitoral, eliminar todos os que considera uma pedra no seu sapato, não é coisa de outro mundo, para o MPLA ou de se estranhar, que na primeira esquina, mais um critico possa desaparecer, mas os assassinatos vão continuar…, pois a intimidade com estas técnicas dantescas, fazem parte de uma cultura partidocrata imutável.
Vamos então rememorar, mais uma vez o texto de Pepetela em 1977, para que se tenha noção, quem eram, afinal os fraccionista e qual foi o papel deste escritor, cuja participação foi de lobo, na altura, pese a sua pele de cordeiro.

A víbora de cabeça ao contrário
(Jornal de Angola – Ano 2– Nº 778 do dia 21.05.77)
Artur Pestana, “Pepetela”
Os mais velhos contam uma história que se passou no tempo em que os animais dominavam as matas antes dos homens aparecerem. Eis a história:
Correu o mujimbo pelo mundo da mata que o leão estava doente e que ia morrer. As reacções dos animais foram variadas. Uns diziam: “ai! se o leão morre quem nos irá governar? Quem, dentro de nós reúne tantas qualidades de coragem, inteligência e decisão? Nenhum, nenhum! Que vai ser de nós?” Era o grupo do cágado, do coelho, do macaco. Outros diziam: “ora, ora, há-de aparecer alguém. O mais forte sobressairá e então será o nosso chefe.” Era o grupo da formigas, do jacaré, do elefante, sempre pronto a aceitarem qualquer chefia. Também havia os hipopótamo e o rinoceronte que diziam: “Que nos interessa esse problema? Logo que haja para nos banharmos ou árvores para marrarmos, tudo está bem.”
As discussões iam crescendo, os grupos fechavam-se e o mujimbo crescia. Já havia quem tivesse visto o leão a vomitar atrás duma árvore, outros que viam a médica-coruja todos os dias na toca do leão. Interrogada, esta dizia sempre: “O rei doente? Nunca o vi de tão boa saúde”. Mas os súbditos não acreditavam na fala da coruja.
Ora, havia na mata um bicho muito especial, que tinha ganho certa reputação numa disputa anterior e que era a víbora de cabeça ao contrário. Todos sabem que a víbora tem uma cabeça triangular, cuja base assenta no pescoço, Esta víbora, por um acaso que nem a coruja conseguia descobrir, tinha a parte mais estreita do triângulo ligada ao pescoço e a base para cima.
A víbora de cabeça ao contrário, numa disputa célebre no mundo da mata, em que o equilíbrio se tinha rompido entre os interesses contraditórios, uns anos atrás, tinha tomado uma posição frontal. Os mais velhos diziam que o conflito um dia estalou entre o leão e o corvo. O corvo afirmava a quem o queria ouvir que os animais terrestres deviam pintar-se de mais cores para melhor se distinguirem da terra e das árvores. Que muitas vezes era difícil a um voador reparar na existência de animais, num certo sítio, pois muitas vezes se confundiam com a natureza. O leão opinava que isso era uma protecção e que cada um deveria manter as cores com que tinha nascido. A discussão azedou-se de tal modo que provocou uma rotura entre o grupo do corvo e o leão. Convocada a assembleia dos animais, o leão explicou o problema. Foi então que a víbora de cabeça ao contrário, até aí quase desconhecida e memo tímida, talvez por sentir que não era como as outras víboras, se arrastou para o meio do terreiro e sibilou entre dentes (todos sabem que as víboras para falar metem a língua entre os dentes e assobiam).
-Alguns aqui têm a conspícua ideia da conspicuidade irreal soletrada através de menções mencionadas e dimanadas dos frontiscípios (sic) de imperiais vontades e arrogâncias que já se apagam nos tempos que se vislumbram sequentes, sagazes e sedentos. Ss!...Ss!...Sss... Alguns crêem nas suas arquétipas (sic) sequelas, que se estão a esvaziar em sonolências e silenciadas pelos interstícios. Ss! Ss! Sss…
A assistência, entusiasmada, aplaudia. Uma parte da assistência, melhor dizendo. A outra parte estava tentando perceber para que lado iria cair a víbora de cabeça ao contrário, pois que ela se equilibrava mal, ondulante, com um peso grande na parte de cima. “Vai para a esquerda”, diziam os do grupo do leão.“Vai para a direita”, desejavam os do grupo do corvo. Mas a víbora lá conseguia equilibrar-se, vibrando violentas cabeçadas no ar, ora para a direita, ora para a esquerda, cada vez mais fatigada em conserva a posição. E continuava a sibilar e a salivar.
-Para aqueles retrógrados saudosistas que saúdam o sol, soltando sarcásticas soluções esquizofrénicas, vai o meu sarcasmo e o peito aberto aos quatro ventos pela incoerência das posições entrincheiradas no húmus vegetal que nos cerca e nas sementes saborosas que nos alimentam, pois é base material que cria relações entre os seres. Ss! Ss! Sss…Por isso declaro aqui simbolicamente pela graça dos valores que nos agraciaram, sacrificando tantos buracos da frescura da terra em comiserações farisaicas sem dialéctica nenhuma, que o corvo é um sacrílego. Abaixo os sacrílegos!
Parte da assistência aplaudiu, pois compreendeu a última frase. A víbora de cabeça ao contrário perdera e jazia no solo, a cabeça para o lado esquerdo. O leão venceu mais esse pleito e o corvo foi voar para longe, no lugar onde só havia rochas.
Daí vinha um certo prestígio da víbora de cabeça ao contrário, que passou a ser convidada em certas ocasiões para brindar aos noivos ou a um nascimento feliz. No final de cada discurso, lá ficava ela, escumante, jazendo fatigada pelo esforço de equilibrar a cabeça. Umas vezes caía para a esquerda, outras para a direita, o que era sempre um interesse para o público, que até já aproveitava para fazer apostas. No entanto, o cágado, que era um devoto da estatística, registou sempre as quedas da víbora de cabeça ao contrário. E um dia segredou ao seu amigo coelho:
-Sabes uma coisa? Na primeira intervenção pública da VCC (ler “víbora de cabeça ao contrário”) e a que lhe granjeou tanta admiração e simpatia, ela caiu para a esquerda. Mas tenho reparado que ultimamente, ela cai cada vez mais para a direita. Em dezassete discurso, caiu para a esquerda seis vezes e onze para a direita. Outra, nos últimos quatro, tem caído sempre para a direita. Se queres apostar e ganhar , aposta sempre na direita. Tens mais probabilidades.
-Mas, amigo cágado, aquilo depende de que lado sopra o vento quando ela está demasiado cansada para suportar a cabeça.
-Também pensei assim no princípio, disse o cágado, mas os números são os números. Deve haver uma inclinação natural para a direita que se vai agravando com a idade, talvez a coruja, que é médica, seja capaz de explicar.
Estavam os animais na mata nestas apostas e conversas, quando surgiu o mujimbo assustador: o leão ia morrer. Os grupos de amigos discutiam o caso, uns tristes e preocupados, os outros com os olhos a faiscar.
Foi então que se viu, cada vez com mais frequência, a víbora de cabeça ao contrário conferenciar com a hiena e o abutre. Do que se falava em tais reuniões ninguém sabia. Mas o coelho notou-as, comentou com o macaco, e em breve o cágado também foi informado. Pouco a pouco a mata foi-se apercebendo que o grupo da VCC se ia alargando, comportando também a avestruz e, oh admiração!, o míope rinoceronte. Eram longos conciliábulos, em que se via ao longe, na mais isolada clareira, a víbora de cabeça ao contrário cabeceando fortemente o ar, perante o entusiasmo dos companheiros. E, um dia, o abutre trouxe o seu primo corvo, meio camuflado com penas do avestruz, pois o corvo fora banido para lá da mata.
O cágado e o coelho conseguiram, um dia, encostar a coruja num canto da sua árvore e insistiram com ela para que dissesse a verdade. E a coruja insistia que o leão estava de óptima saúde.
-Mas porque não aparece? Perguntou o cágado. Porquê não o podemos visitar, nós os que o seguimos?
-Não sei. Ele é que não quer, disse a coruja. Tem os seus planos.
-Mas que planos? Que se passa afinal? Só vemos que a mata está dividida entre os que, como nós, sofrem por saber o rei doente, os indiferentes, os cegos, os burros, e os que se agitam talvez com as piores intenções. O rei não sabe o que se passa, está fechado na sua toca porquê?
A coruja encolhia os ombros e não respondia.
Foi então que estalou um conflito entre a girafa e o mabeco por causa de umas folhas que o mabeco arrancou duma árvore preferida da girafa. Era caso para o leão resolver. Mas o rinoceronte apareceu a convocar os animais para a assembleia, argumentando que, como o rei estava doente, podia resolver-se o assunto sem o incomodar. O macaco e o coelho sentiram que havia manobra, mas como o cágado tinha ido visitar as tartarugas de água doce, não se atreveram a intervir sem a opinião do amigo. A maioria dos animais aceitou a convocatória de bom grado.
Reunida a assembleia, era preciso um presidente. Logo o macaco propôs o cágado, o mais inteligente e sábio a seguir ao leão. Revoltou-se a hiena, dizendo que o cágado não tinha voz para presidir um debate tão difícil. E o rinoceronte, depois de levar uma cotovelada do abutre, propôs a víbora de cabeça ao contrário. Como o seu grupo apoiou a proposta com estrépido (sic), batendo com as pernas no chão, a VCC logo se arrastou, ondulante, saracoteando-se, para a mesa da presidência.
-A maioria decidiu que fosse eu e seria ultrajante dimensional que sequiosamente e insensatamente opusesse aos sodomíticos tribunos que me precederam apostrofarem tão elogiosamente a concatenação aristotélica do meu nome. Ss! Ss! Sss… Está aberta a sessão….
O abutre pediu a palavra para dizer:
-Este caso entre a girafa e o mabeco resolvia-se imediatamente se tivéssemos um chefe válido. Mas como o rei está moribundo, é necessário incomodar toda a gente para este trabalho. É grave, muito grave a mata estar sem chefe.
O macaco pediu a palavra, mas o presidente ignorou-o e deu a palavra à hiena, a qual disse:
-O abutre tem razão. Não há uma autoridade na mata e cada um faz o que quer. É a anarquia. Precisamos de um chefe forte na mata.
O coelho levantou-se.
-Peço a palavra.
-Cale-se, disse a víbora de cabeça ao contrário. A avestruz pediu antes a palavra.
-Já o macaco pediu antes, disse o coelho.
-Cale-se ou ponho-o na rua. Ss! Ss! Sss…O abutre tem razão, é a anarquia. Que fale a avestruz.
O hipopótamo bateu palmas, piscando os olhos. “Isto é que é um chefe!”, segredou para o jacaré que concordou assentindo com a cabeça.
-Senhor presidente, disse a avestruz, permita-me que lhe chame chefe, pois tem mostrado mais capacidades para o ser do que o leão. A mata está em crise, com a morte próxima do leão. Esta crise poderá ser utilizada pelo fogo que se avizinha para nos destruir. Precisamos de um novo rei, para não mais termos de esconder a cabeça num buraco quando se aproximar o fogo inimigo. Senão é a anarquia, o caos, o dilúvio, o inferno, o Purgatório, o abismo, as trevas, a ignorância, o vácuo!
E sentou-se a avestruz, escondendo a cabeça entre as penas. O grupo de VCC aplaudiu freneticamente o discurso.
O cágado pediu a palavra, mas o presidente nem sequer olhou para ele. O macaco gritou:
-Já percebemos o vosso jogo. Só os cegos é que não vêem. Dêem-me a palavra.
-Vais para a rua. Ss! Ss! Sss… A desobedecer ao chefe, disse a víbora de cabeça ao contrário. Ponham o macaco na rua!
Logo o rinoceronte e a avestruz se levantaram para pôr o macaco fora da assembleia. Mas este subiu para uma árvore e gritou:
-Querem substituir o chefe, é esse o vosso jogo. Enquanto eu estiver vivo, só há um rei: o leão.
-Façam-no calar, gritou a VCC. Façam-no calar, senão rebolo-me no chão. O chefe sou eu, e vou apostrofar-te…
Mas a víbora de cabeça ao contrário não terminou a frase, e a algazarra que se gerou na clareira acalmou de repente. O último a calar-se foi o mosquito, que estava distraído, atraído por uma veia no pescoço do touro e por isso, durante momentos, só se ouvia o seu zumbido. Depois calou-se também ele.
Calmo, sorridente, mexendo todos os músculos, e abanando gravemente a juba, entrou o leão no local da assembleia. Pujante, e mais bem disposto do que nunca. No meio do silêncio geral, o rei dirigiu-se para a mesa da presidência e falou:
-Eu só queria saber como reagiriam os meus súbditos e por isso fiz correr o mujimbo de que estava doente. E aprendi muitas coisas. Sei agora quem são uns e outros. A partir deste momento, volto a assumir a gerência do reino da mata. E quem não estiver de acordo pode ir para as rochas onde devia estar o corvo, pois ele já lá não está, está camuflado entre nós.
Nada mais disse o rei. Afastou-se para a sua gruta.
A víbora de cabeça ao contrário ficou de tal maneira petrificada que ainda hoje se pode ver, no meio da mata, transformada em grosso cipó, virado eternamente para a direita.
Pepetela

3 comentários:

  1. Marimbondo

    Marimbondo voa e anda
    nos palácios de Luanda
    e ferra gente boa
    que apregoa
    que o jardim tresanda.
    Marimbondo manda e voa
    a caminho de Nova York, Brasília e Lisboa,
    depois de aprender com a formiga
    a amealhar,
    para luxar
    e para a barriga,
    se ocorrer um temporal
    ou desparasitarem o quintal.
    Marimbondo voa e anda,
    anda e voa,
    ferroa,
    tresanda
    e tem uma vida boa
    porque no jardim em que manda
    as suas gentes,
    comportando-se como meninos das escolas,
    vivem felizes, com ricas esmolas,
    posicionando-se, muito obedientes,
    a pensarem que também vão ser presidentes,
    quando ao marimbondo dum raio
    lhe der o badagaio.

    António Kaquarta

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  2. A Víbora de Cabeça ao Contrário de Pepetela

    Naquela ocasião,
    o escriba fiel ao Feiticeiro de Oz
    apenas dava voz
    a mais uma alucinação
    do Rei Leão,
    sem perceber de que na realidade
    o carnívoro possuía o dom da ubiquidade.
    O escriba, por ser
    exageradamente sectário,
    nunca conseguiu ver
    que o Rei Leão
    também era a Víbora de Cabeça ao Contrário.
    Esse arauto daquele Reigime
    fechou os olhos a muito crime,
    padecia do síndroma de desorientação,
    pensando ter uma inteligência perfeita,
    e confundia a esquerda e a direita
    porque, para sua infelicidade,
    nada sabia sobre a Teoria da Relatividade.
    Ele ignorava de que essa definção
    depende sempre do ponto de obsevação.
    O Rei Leão,
    que também é a Víbora de Cabeça ao Contrário,
    numa homenagem muito comovida,
    como gesto de gratidão
    a esse escriba,
    por ele considerado extraordinário,
    vai mandar construir uma enorme avenida
    à qual vai dar o nome desse sublime
    fanático fiel seguidor de um Reigime
    em que se define por inteligência
    a doentia subserviência
    e sempre fiel obediência.
    Ai de quem naquela região
    emitir qualquer parecer
    contra o Rei Leão,
    a Víbora de Cabeça ao Contrário!...
    O Rei Leão, que continua a mandar,
    facilmente o fará desaparecer,
    porque há muitos cangaceiros nesse lugar
    sempre disponíveis para matar.

    António Kaquarta

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  3. Pois é. Infelizmente continuam essa guerra insana contra tudo o que recusa-se a permanecer "algemado" ao regime.
    Espero sinceramente que as notícias deste fim-de-semana que dão conta da saída do Tonet sejam falsas.
    Continuem porque, mesmo parecendo que não, existe muita gente que vos apoia a 100%.
    1 abraço
    Radar do Angolano
    http://angolaexpress.blogspot.com

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